domingo, 27 de novembro de 2011

FMI, Fátima, Futebol e Património Mundial Imaterial

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 22 de novembro de 2011

ocupar a net

temporariamente desocupada

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Elas


O texto, de Maria Velho da Costa, já tinha a sua silhueta aqui.

grevista e amarelo

grevista e amarelo
conversam animadamente
sobre o sistema
um diz que é injusto assim
outro diz que é injusto, e é mesmo assim
um diz que podemos pegar nisso
outro diz que podemos perder o emprego se pegarmos nisso
um diz que emprego já estamos a perder
outro diz que há muita coisa aí para fazer
um tem receio de que não chegue
outro tem medo de que seja demais
um acha que já vai tarde
outro acha que ainda é cedo
ambos 99% insatisfeitos com o capitalismo
enquanto um terceiro capitaliza a insatisfação
- juro
o caso é verídico
grevista e amarelo
distraem-se conversando no café
debatendo a greve
e nenhum deles trabalha
um não atende os clientes
outro nem sequer vai fazer o piquete de greve
e um pombo come os restos do pão no café

terça-feira, 8 de novembro de 2011

o último a dormir apaga a lua


[roubado do facebook de Cléo Guingo]

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Eles têm a faca e o queijo na mão...

e nós temos o garfo e a marmelada.



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

poema para o fragmento de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

gostava de saber o título de ver a legenda
uma mulher a jogar futebol é um fragmento
com seu cabelo armado
que afinal ela nasceu foi para agradar ao homem
que afinal ela nasceu foi para estar em casa
para fazer montes de exercício físico mas às escondidas
não em espectáculo
que afinal ela também tem ginástica na escola
e também sabe chutar uma bola
mas o que ela tem é de ter o cabelo penteado
mas também tem o dever de ter um corpo são
mas ai dela que caia ao chão
que afinal ela nasceu foi para ser enfermeira
que afinal ela nasceu foi para ser secretária
que afinal ela nasceu foi para levar a cerveja aos espectadores
gostava de saber se é uma aula
porque finda a escola nunca mais toca numa bola
porque com trinta anos já vive em casa para sempre
porque andamos para aqui para que os homens brilhem
e o trabalho de sapa faz-se às escondidas
e o lixo e as retretes e os curativos e as secas
vão sempre ser feitos pelas bonecas
cem anos depois

poema para o desenho vinte e três de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

alentejano o nariz de vinho vermelho
o vinho vermelho no nariz do alentejano
o barrete de ribatejano no alentejano
o capote alentejano no do barrete ribatejano
o cajado e o capote e o nariz vermelho
a gravata e as botas e os olhos pegados
tortos a ver só o vinho à frente
sem profundidade nem perspectiva
que as pessoas do campo e do alentejo
são tristes de vinho e têm pouco pra pensar
só na morte da bezerra branca de ontem
e nada de cooperativas que eu ainda sou miúdo
e ainda vivemos na ditadura e o povinho
ainda é alentejano de nariz de vinho
com barrete de ribatejano eh toiro
lá nos campos as pessoas são todas assim

poema para o desenho vinte e dois de vinte e três desenhos e um fragmento de MD

eu sei muito bem como são os holandeses
são uns senhores de socas que fumam cachimbo
enquanto tratam da terra com um ancinho
no livro do meu tio
os holandeses têm calças às riscas e gorros na cabeça
por causa do frio

Acabar com tudo

Primeiro arrumar tudo o que ficou a meio,
tirar da cabeça
depois encostar às boxes.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

dois de novembro


a minha não faz sentido
será que dormindo
mais claro
menos clara
menos cara menos coração
mais ar só ar e árvores faz
isso sentido?

sem coração sem intenção sem criação sem
as forças das raízes dos pés a esticarem-se para a boca

a atirar pedras sílicas sílex pederneiras
cabeças de lanças da nuvem da certeza
à la deus-dará

o inverno era a rua ser de sintra fria e poças de reflexos turvos
o vento guilhotinava
a garganta congelada
a ganhar espaço para as moléculas incharem

a dificuldade

Poema Antigo

dorsal magenta
pesadas e de ferro maceram os ligamentos
já não se vê a ponta do fio
o novelo que seguro é do tamanho do mundo
esconde o olho a alface...
há incríveis sensações
romperam-me os pés
línguas de camaleão
sempre nunca mais deito
continuas a rir-te de costas para o outro lado
aceso como pinheiros
faço que sei que sossego
a caluda
houve gotas roxas na cascata da cozinha
vai ela a passar outra vez
ódio, nojo, demónio
cuspo, raiva, aspirador
sola do sapato contigo
o azul lá lá lá continua
seca o que salga água tépida
às escuras mastros cinzentos e farol preto
mas uma vez um dia amanhã
secura dos lábios-chumbo
porcas soltas cabeça cheia
ainda a ranger
com veneno, com cicuta, com x-acto
e pelo beiço
antes e depois já não são tempos
os risquinhos do traço impossíveis ganharam
nuvem